Capítulo 8. A Paz de Excalibur
Mudanças
Era inverno do ano de 488. Sir Dorian e Sir Haggen estavam em Sarum para o Natal, e estavam, junto de Richard, escudeiro de Dorian, na mesma taverna onde por anos vieram com Eustace e Henry. Gabriel, escudeiro de Haggen não estava presente – havia chego a idade e Gabriel foi dispensado após todos estes anos de serviço, mas com recomendações por seu desempenho contra os Francos em Bayeux. Sem um escudeiro, Richard recomendou Peter, antigo escudeiro de Sir Henry que, agora, estava sem um senhor. Dorian mandou-o atrás de Peter, e ambos ficaram na taverna apreciando sua cerveja e as mulheres dali.Sir Isaac e Sir Jeremiah entraram na taverna. Isaac agradeceu aos amigos por terem-no ajudado, e pediu desculpas por perder a cabeça, e todos beberam juntos enquanto conversavam sobre a guerra, depois foram embora.
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Sir Jeremiah e Sir Isaac, respectivamente |
Quando Richard e Peter chegaram foram recebidos com bebidas e mulheres, cortesia dos cavaleiros. Tarde da noite, já embriagados, eles conversavam sobre Sir Henry. Peter disse que a família Beckham estava sem um regente forte e devia dinheiro à igreja, por isso ela havia assumido o comando do feudo. Isso mexeu muito com Sir Dorian, que não gostou de saber que as terras de seu amigo haviam sido usurpadas. Ele pensou em sua situação, e foi lembrado por Peter que Lady Lucile, irmã mais velha de Henry, era solteira, e que Henry buscava um casamento para a moça antes de morrer.
No dia seguinte Dorian foi até a catedral da Imaculada Virgem Maria para encontrar o Bispo Roger. Sua intenção era quitar a dívida dos Beckham, mas o Bispo foi firme em seu ponto, dizendo que preferia as coisas como estavam. Não vendo outra opção, Dorian, com Sir Haggen e seus escudeiros, foram até o feudo de Wylye encontrar a mãe de Henry.
A Proposta de Sir Dorian
Lady Kateryn Beckham era uma mulher muito cristã. De cara ela não conseguiu disfarçar o desagrado pela presença de Haggen, mas estava contente com a vinda de Dorian. Após uma boa conversa no salão de Wylye, Dorian foi direto ao ponto – desejava ajudar a família de seu antigo amigo, casando-se com Lady Lucile e assumindo as dívidas do feudo. A proposta era boa, porém, Lady Beckham deu a entender que procurava alguém de sangue romano para dar desposar sua filha. Dorian concordou, mas pediu para que ela refletisse sobre a decisão. A dama convidou-os para ficar no salão pela noite, deixou-os a vontade no salão e foi para seu quarto.Dorian foi explorar o feudo, caminhando até a igreja. Lá encontrou Lady Lucile, que estava fazendo suas orações. A donzela era como uma versão mais nova de sua mãe – muito bonita e igualmente devota. Dorian esperou que ela terminasse e a acompanhou até em casa. No caminho fez novamente sua proposta, sendo direto. Porém, a dama se sentiu acuada e disse que daria uma resposta em breve. No dia seguinte, Dorian e Haggen partiram para Sarum para o Natal.
Dorian aguardou uma resposta da família Beckham, mas ela nunca veio. Ele ainda tentou enviar cartas para o feudo da família, mas não obteve resposta. Ele ainda tentou falar com o conde Roderick, e foi então que descobriu que a mãe de Henry havia enviado cartas para o conde, dizendo que buscava um casamento para sua filha comum romano cristão, e se não haveria alguém de Silchester disposto a se casar com ela. Dorian ficou chateado, percebendo que a família de seu amigo havia desprezado sua proposta.
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Lady Kateryn e sua filha, Lady Lucile |
A Batalha da Floresta Morris
Na páscoa de 489, muitos nobres se encontravam em Sarum. O Duque de Lindsey e seus vassalos vieram do norte, embora com poucos soldados. Além deles veio o romano Ulfius e suas legiões. Haviam muitos homens na cidade e o clima era de tensão – todos sabiam que em breve marchariam contra a Cornualha pois isso já era cogitado há mais de um ano. Duque Gorlois ofendeu demais o rei, e deveria enfim se ajoelhar, por bem ou por mal.As tropas partiram em menos de uma semana após a páscoa, e foram até Vagon, onde seguiram a velha estrada romana que dividia a floresta de Modron e o bosque Blakemoor – a mesma estrada que os cavaleiros Dorian, Haggen e Henry patrulharam anos antes e, por ventura, encontraram Merlin e o ajudaram a adquirir Excalibur.
O exército de Logres marchou até a cidade de Wells, no pequeno reino de Somerset, um território separado de Logres, mas que havia prometido tropas. A cidade era grande, mesmo com a saída dos romanos, é até hoje visitada por suas águas.
Porém o exército de Somerset não estava lá. Era obvio que o rei não havia cumprido sua promessa de auxílio. Assim, as tropas de Uther foram para a Cornualha sem reforço, mas sem oposição, se dirigindo para Jagent e, posteriormente, Devon, um condado fronteiriço com a Cornualha, submisso ao Duque Gorlóis.
Porém novamente não havia resistência, e as forças de Uther seguiram a estrada romana até Exester, a maior cidade do condado, contornaram seus muros, e seguiram para a floresta de Morris, em direção a Tintagel, condado capital do ducado da Cornualha.
Porém, em uma noite, enquanto acampavam na floresta, batedores informaram que tropas de Gorlóis também estavam na região, acampados do outro lado do rio. Na manhã seguinte os exércitos marcharam e se encararam nas margens do riacho, onde formaram linhas de soldados – o número de homens de Gorlóis era claramente superior e, mesmo com uma vitória as tropas de Uther sofreriam baixas demais.
O terreno íngreme e bem arborizado impedia que a cavalaria fizesse uma carga sobre os inimigos. Foi um dos cavaleiros de Roderick, Sir Dorian, que sugeriu que a cavalaria se afastasse e tentasse uma investida pelo norte. Então Uther dividiu sua cavalaria em três. Roderick e seus homens viriam pelo norte, Ulfius e os seus iriam pelo sul. Uther e os demais cavaleiros ficariam no centro para defender a linha caso ela quebrasse. E assim foi feito.
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Gorlóis de Tintagel Duque da Cornualha |
– Não me curvarei a vós, Uther! – respondeu o velho duque do meio de seus cavaleiros. – Não és metade do homem que seu irmão foi, prefiro morrer à me curvar!
Flechas foram disparadas da linha da Cornualha e foram revidados por mais flechas. Homens de Logres investiram a pé contra a parede de escudos inimiga e sangue tingiu as águas do riacho.
Roderick e seus homens foram para o norte algumas milhas até verem um ponto fraco na linha inimiga – camponeses com armas improvisadas. Ali eles investiram e atropelaram os infelizes. Seguiram então para o sul, em direção ao centro da linha inimiga.
Porém, seu avanço foi impedido por uma unidade de cavalaria inimiga veio de encontro a eles. Uma batalha sangrenta teve inicio e muitos morreram. Sir Dorian e Sir Haggen derrubaram um campeão de Tintagel. Foi uma vitória pequena, e ao fim do embate contabilizaram as baixas. Entre os moribundos estava Sir Eustace, perfurado por uma lança. “Cuide de Magdeline” disse antes de perder a consciência.
“Eustace, seu desgraçado! Não ouse morrer sem ser por minhas mãos!” bradou Sir Geoffrey, amaldiçoando Eustace por ter sido fatalmente ferido. Sir Murdok, cavaleiro de Geoffrey, estava ferido e se encarregou de levar Eustace até os médicos. Com eles foram os demais feridos, seguindo para a retaguarda enquanto os cavaleiros se reorganizaram. Sir Dorian montou o cavalo de Sir Eustace, e Sir Haggen pediu que levassem o garanhão do campeão que abateram.
A nova investida teve inicio e os cavaleiros chegaram à retaguarda da linha principal da Cornualha, rechaçando-a. Houve muita matança até que os lanceiros se organizassem e repelissem os cavaleiros. Foi neste momento que uma trombeta foi ouvida, e os exércitos desengajaram. Os mortos foram removidos do rio para o rei cavalgar até a margem, seguido pelo mago Merlin.
– Já basta desta loucura Gorlóis! – novamente bradava Uther – Uma terra, um rei!
– Justiça! – revidou o duque.
– Mostre-lhe a espada, Uther. – insistiu Merlin.
E foi então que o rei sacou suas espada, que emanou uma forte luz azul-esverdeada, revelando as tropas inimigas escondidas na mata, fascinando a todos que olharam incrédulos para a luz. Gorlois apenas olhou preocupado, assim como seus nobres. A luta cessara em todas as partes e nenhum som sequer foi ouvido a partir de então. Foi Merlin que quebrou o silencio.
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Reencenação de Uther e Merlin confrontando Gorlóis |
– Contemplem Excalibur, a Espada da Vitória! Forjada quando o mundo era jovem e homem, animais e insetos eram uma coisa só.
– Desista Gorlóis! – exigiu o rei.
– E se eu o fizer, o que cede você?
– Eu ceder?
– O senhor já obteve a vitória, mantenha o que tem! – aconselhou Merlin, cochichando.
– Todas as terras daqui até o mar serão suas para manter em meu nome! – proclamou o rei.
– Eu aceito – gritou o duque.
Então houve uma euforia geral, enquanto ambos os exércitos ovacionavam seus líderes. Todos os sobreviventes comemoravam a decisão, afinal, todos temiam a morte e a diplomacia salvou inúmeras vidas. No entanto, os cavaleiro de Roderick retornavam com luto pois haviam sofrido baixas, embora poucas, foram significantes.
Dorian e Haggen foram ver o estado de seu senhor e lamentaram a noticia de seu falecimento. Interrogado, Murdok disse que fez o melhor que pôde, e que apesar da rivalidade de seus senhores, eram todos vassalos de Roderick.
O earl foi parabenizar seus cavaleiros por sua iniciativa e coragem em combate, dizendo ainda que os recompensaria adequadamente. Deu suas condolências e concordou com Sir Dorian em amparar Magdeline, a amante de Sir Eustace.
Ambos os exércitos confraternizaram acampando juntos, comendo e bebendo a mesma comida. O clima, apesar de tenso, foi se atenuando conforme a bebida foi consumida e, na manhã seguinte, os homens da Cornualha foram embora cedo.
Roderick entregou a Sir Dorian, Sir Haggen e Sir Murdok documentos selados, e disse que escoltassem a caravana de mortos e feridos de volta para Salisbury, e que procurassem o assim que possível o príncipe Madoc em Winchester. Eles seguiram com o exército do rei, que se dirigia para o Norte com o intuito de combater os saxões que ameaçavam Lindsey, mas em Wells seguiram para o leste, de volta para Salisbury, até Sarum.
Acertos em Salisbury
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Sir Murdok |
Sir Murdok ficou em Sarum para se recuperar dos ferimentos. Sir Dorian e Sir Haggen haviam sofrido poucas escoriações, aproveitaram este tempo e negociaram os cavalos de Sir Eustace e do cavaleiro abatido por ambos durante a batalha. Parte do dinheiro de Sir Eustace foi entregue para Magdeline – o restante foi dividido por ambos, que voltaram aos seus respectivos feudos para reverem suas famílias e guardarem suas libras.
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Lady Lara |
Em Tisbury, Haggen foi inspecionar a vala e o baluarte que havia deixado construindo em torno da propriedade. Ele entregou mais libras ao mestre de obras para garantir que estivesse concluída até o inverno. Em seu salão, porém, havia um grande pesar pois June, sua filha, continuava com suas crises de tosse. A garota vivia doente e Sir Haggen pediu para que druidas das terras do pai de Joyce viessem para ajudar em seu tratamento.
Quando retornaram para Sarum se juntaram a Murdok já recuperado, e foram ao encontro do príncipe.
A Ordem do Dragão
A viagem para Winchester foi tranquila, seguindo pela estrada que ligava inúmeros feudos, incluindo Broughton, feudo da família de Murdok, até passarem pelo forte da colina de Du Plain, um castelo bem guarnecido e mantido por Sir Geoffrey.![]() |
Castelo de Du Plain |
Seguiram então para a divisa com Hampshire, terra assolada por Saxões, até se aproximarem das muralhas de Winchester. Na verdade, Minha Senhora, a cidade se chamava Caer Gwent, mas desde que os saxões surgiram, a cidade foi chamada por eles de Wintanceaster, ou Winchester na língua Bretã.
As velhas muralhas de pedra romanas ruíam, e paliçadas de madeira completavam boa parte das suas lacunas. Marcas de queimaduras e rachaduras podiam ser flagrados por toda a sua extensão, assim como pelos campos e imediações da fortaleza.
Muitas pessoas viveram ali, mas a vinda dos saxões e a guerra fizeram que muitos abandonassem o condado. Agora Winchester, assim como os portos de Hantonne e Chinchester eram bastiões, postos avançados para combater os saxões de Sussex.
Dentro da cidade havia um povoado composto pelas famílias de plebeus que trabalhavam nas imediações. Havia também as famílias dos guerreiros e cavaleiros residentes do castelo, e de uma considerável população judia que insistia em viver ali. Ainda assim havia poucos habitantes, e conforme os anos passavam mais e mais partiam para Salisbury e Silchester.
O castelo havia sido um local impressionante. Uma torre alta de pedra hasteava o estandarte do Pendragon junto do estandarte do earl de Hampshire. Porém a torre era velha, e sua estrutura estava ruindo com os anos.
No salão, o príncipe recebeu os cavaleiros de Salisbury que traziam os papéis de Roderick. Foi então, Minha Senhora, que o príncipe deixou de lado sua arrogância e comportamento costumeiro, assumiu uma postura imponente e fez seu discurso – curto, mas um que mudaria o destino de toda a Bretanha.
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Príncipe Madoc no salão romano de Winchester |
– Quero que saibam que há tempos busco homens de valor, Cavaleiros, homens em quem possa confiar. Meu pai tem os dele, Brastias, Ulfius, Roderick, por Deus, até o maldito feiticeiro! – disse enquanto caminhava pelo salão – Um dia serei rei, e precisarei de vassalos leais para continuarem o trabalho de meu pai. E foi por isso que, no ultimo inverno, pedi para os vassalos dele me indicassem homens de grande confiança, que se destacassem por seus feitos e por sua lealdade. É por isso que estão aqui!
Os cavaleiros então perceberam que estava acontecendo. Olhando ao seu redor puderam ver cavaleiros de várias partes de Logres, todos no salão, leais ao príncipe.
– São muitas as lendas a respeito de Alexandre o Grande, o grande rei da Macedônia, que conquistou o mundo selvagem ao seu redor com honra e civilidade, aderindo os costumes e culturas aos seus. Este costume também foi aderido pelos romanos, antes dos bárbaros chegarem. – falou esta ultima frase com desgosto, apontando para fora. – Pois eu acredito, Cavaleiros, que este legado não deve ser esquecido! Somos nobres, somos mais do que bestas famintas, e há muito vejo o mundo ao nosso redor sendo destruído por estes animais!
O príncipe estava eufórico e demonstrou uma raiva reprimida contra os saxões apesar de seu discurso. E então ele concluiu.
– É por este motivo que os chamei aqui. É para que me ajudem a construir um reinado de honra e grandeza, e não de fogo e pedras. – e então ele apontou para o estandarte do Pendragon – Estou propondo que entrem para a Ordem do Dragão, uma irmandade de cavalaria independente de reinos, unida para o bem da Bretanha.
E foi assim que aconteceu. Sir Dorian, Sir Haggen e Sir Murdok se curvaram ao príncipe, fizeram um juramento de lealdade, de que nunca atacariam um irmão da ordem e que se manteriam justos e honrados. Madoc sacou uma espada, de lâmina reluzente, empunhadura dourada, adornada com gemas vermelhas e escamas – não era a espada comum que Madoc levava em batalha, era a espada do Dragão, um tesouro maravilhoso, embora incomparável a Excalibur. Cada um deles, após fazer o juramento, ainda ajoelhados, foi saudado pela lamina e a beijou. E se tornaram irmãos.
Inverno de 489
Até o fim daquele ano eles serviram em Winchester com Madoc, enquanto mais cavaleiros vinham para a Ordem. No outono ajudaram a combater criaturas que assolavam pescadores do rio, além de diversas pelejas contra invasores saxões que ocorreram na divisa com Sussex. Neste meio tempo, conheceram alguns de seus irmãos de ordem.
Quando o inverno chegou os cavaleiros retornaram para Sarum. Sir Dorian tratou de procurar Roderick para acertar sua proposta de casamento com Lady Lara. O earl aprovou, porém, deixou claro que, o feudo pertence a família de Henry e caso um herdeiro legítimo da casa Beckham reclamasse o direito do feudo, ele deveria ser entregue. Isso faria de Dorian o regente, responsável pelo feudo enquanto Lara vivesse ou até o irmão de Henry voltar de Silchester.
Dorian, com sua permissão assinada, foi comunicar Lady Kateryn Beckham em Wylye que explodiu em fúria ao saber que sua filha Lara havia ido atrás do bretão. Sentia raiva por ser traída por sua filha mais nova, por quem tanto havia chorado quando desaparecera. Sentia ódio por imaginar seus netos, maculados com o sangue indigno dos “cães de Baverstock”. Ela falou que poderiam até se casar, mas que não daria uma libra sequer de dote, e então se recolheu em seus aposentos. Lady Lucile, por outro lado, ficou feliz em saber que sua irmã estava bem, dando graças a Deus por Sir Dorian ter cuidado bem dela, e torcendo para que ela tivesse se mantido pura nestes anos.
Sir Haggen retornou para Tisbury e, conforme adentrava a propriedade se alegrou em ver as defesas construídas e a milícia fazendo guarda na propriedade. Enfim sua família estaria segura caso algum inimigo adentrasse o feudo. Porém, a reação dos empregados ao avistá-lo lhe deixou desconfortável. Ele cavalgou rápido para a propriedade e adentrou seu salão, cuja frieza lhe fez o sangue congelar. Ele foi até seu quarto onde encontrou Joyce com seu pequeno filho no colo. Ao avistá-lo, a mulher caiu em prantos, e não foi por devido a traição que sofrera no ano anterior – foi algo pior, e Haggen sabia o que era.
Num bosque próximo, entre a morada da família De Gallas, havia um pequeno altar dedicado a Cernunnos, o deus chifrudo. Junto àquele local havia um cemitério, onde a população do feudo enterrava os corpos e as cinzas de seus entes queridos. Lá jazia um pequeno túmulo, em frente a um velho carvalho, onde por vezes Sir Haggen chorou a memória de sua filha.
Quando o inverno chegou os cavaleiros retornaram para Sarum. Sir Dorian tratou de procurar Roderick para acertar sua proposta de casamento com Lady Lara. O earl aprovou, porém, deixou claro que, o feudo pertence a família de Henry e caso um herdeiro legítimo da casa Beckham reclamasse o direito do feudo, ele deveria ser entregue. Isso faria de Dorian o regente, responsável pelo feudo enquanto Lara vivesse ou até o irmão de Henry voltar de Silchester.
Dorian, com sua permissão assinada, foi comunicar Lady Kateryn Beckham em Wylye que explodiu em fúria ao saber que sua filha Lara havia ido atrás do bretão. Sentia raiva por ser traída por sua filha mais nova, por quem tanto havia chorado quando desaparecera. Sentia ódio por imaginar seus netos, maculados com o sangue indigno dos “cães de Baverstock”. Ela falou que poderiam até se casar, mas que não daria uma libra sequer de dote, e então se recolheu em seus aposentos. Lady Lucile, por outro lado, ficou feliz em saber que sua irmã estava bem, dando graças a Deus por Sir Dorian ter cuidado bem dela, e torcendo para que ela tivesse se mantido pura nestes anos.
Sir Haggen retornou para Tisbury e, conforme adentrava a propriedade se alegrou em ver as defesas construídas e a milícia fazendo guarda na propriedade. Enfim sua família estaria segura caso algum inimigo adentrasse o feudo. Porém, a reação dos empregados ao avistá-lo lhe deixou desconfortável. Ele cavalgou rápido para a propriedade e adentrou seu salão, cuja frieza lhe fez o sangue congelar. Ele foi até seu quarto onde encontrou Joyce com seu pequeno filho no colo. Ao avistá-lo, a mulher caiu em prantos, e não foi por devido a traição que sofrera no ano anterior – foi algo pior, e Haggen sabia o que era.
Num bosque próximo, entre a morada da família De Gallas, havia um pequeno altar dedicado a Cernunnos, o deus chifrudo. Junto àquele local havia um cemitério, onde a população do feudo enterrava os corpos e as cinzas de seus entes queridos. Lá jazia um pequeno túmulo, em frente a um velho carvalho, onde por vezes Sir Haggen chorou a memória de sua filha.
Frade Derfel
Março do ano de Nosso Senhor de 573
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